Feliz Dia do Ator!!!

Antonio Calloni, que também é poeta, escreveu especialmente para o blog homenageando os atores. Hoje é Dia do Ator. Confira.
Ser ator é realmente uma profissão de maluco, fascinante. A poética do ridículo, o brincar de faz de conta, o infindável universo onírico infantil e a tremenda cara de pau fazem com que os atores encantem - pelo seu poder de transgressão, pela sedução, pelo poder de conscientização, pela capacidade de simplesmente entreter e pela mágica de poder ser quase todo mundo - aos que os assistem e sonham junto com eles.

Lemos Diderot, Stanislavsky, Grotovsky, Maierhold, D. T. Suzuki e uma infinidade de outros livros (todos fundamentais). Ouvimos muita música clássica para apurarmos nossa noção de ritmo, de cor, de intensidade. Ouvimos samba, pagode, MPB, música sertaneja e o diabo a quatro, graças ao bom Deus. Graças a obrigatória falta de preconceito para ver e viver a vida como ela é (obrigado, grande Nelson!) e poder reproduzi-la, e, melhor ainda, recriá-la como uma pintura, que quase sempre é mais rica do que uma foto. Vemos (com o corpo inteiro) pinturas de Bosch, Goya, Velásquez, Max Ernst, para tentar compreender alguns mistérios da vida, para provocar nossos sonhos, ou, para nada. Só para ver mesmo. Que bom!
Conversamos com o Zé que vende coco no quiosque da praia e notamos um gesto diferente, um ritmo novo, outras possibilidades de comportamento e de comunhão com a vida. Observamos sem pensar. Viva o Zé! Precisamos dele. E depois colocamos uma armadura e dizermos que somos cavaleiros da Távora Redonda, dizemos que somos bons, que somos maus, que somos bons e maus, que somos gente. É uma profissão que deveria se iniciar logo que a pessoa começasse a falar e a ler, e terminar no início da adolescência, já que os adolescentes têm verdadeiro horror a pagar mico. Mas não, o maravilhoso complexo de Peter Pan nos acompanha pelo resto da vida e passamos a nos comportar como crianças relativamente adultas. E aí entra a poética do tempo que estará sempre a nosso favor.

Fazer um bom trabalho de ator é sempre muito arriscado, mesmo que o personagem seja comum, simples, cotidiano. É mais arriscado ainda. É raro, mas acontece de ver um ator dizendo que está arriscando quando na verdade está fazendo um trabalho histérico e fora da medida. No caso de uma novela, geralmente as pessoas se acostumam e até passam a gostar. O erro faz parte do show, eliminá-lo é impossível, diminuir a margem de erro através do estudo, dedicação, e, principalmente, leveza e bom humor, talvez seja o melhor caminho. Cada um escolhe o seu.

É uma profissão generosa, democrática e acolhedora. Qualquer um pode ser ator, basta saber falar, andar, ler e ter o juízo mais ou menos perfeito. Todos têm direito a tentativa e ninguém tira o lugar de ninguém. Fazer um bom trabalho de ator, permanecer digno praticando o ofício já são outros quinhentos, não é para qualquer um. A consciência de que somos inevitavelmente precários por sermos humanos pode ser um grande estímulo para fazermos trabalhos grandiosos. Viramos heróis, mendigos e uma infinidade de outros
personagens para, entre outras coisas, vencer a morte (êta coisinha incômoda). E, no final, conseguimos rir de nós mesmos.

Quero, por fim, agradecer aos meus nobres e loucos companheiros atores por percorrerem esse caminho inventado e que aumenta a vida, o prazer e o sonho. Quero agradecer aos grandes atores que já superaram o estágio dos adjetivos e conquistaram a liberdade plena da criação. Qual o adjetivo para Fernanda Montenegro, para Laura Cardoso? Quero agradecer também aos que estão começando, aos que estão terminando (se é que isso é possível) e aos que estão por vir.

Sou ator, acho que isso quer dizer alguma coisa.

Evoé!

Na estrada

Novamente na estrada, a Cia D`Vergente de Teatro dá um “stop” aos novos projetos, para se apresentar no Teatro Erotides De Campos – Engenho Central de Piracicaba – nos dias 22, 23 e 24 de Agosto às 20h00, com entrada franca. Essa mini-temporada é apoiada pela Secretaria de Cultura através do FAC (Fundo de Apoio a Cultura) da cidade de Piracicaba. Com tantos acontecimentos, agradecemos antecipadamente às Escolas E.E. Catharina C. Padovani, Maria de Lourdes S. Cosentino e à Carolina M. Thame pela presença confirmada. É a arte sendo levada às escolas públicas através da Cia D`Vergente de Teatro e da Assembleia Legislativa de Piracicaba. Assim, buscamos trazer novamente os questionamentos das atitudes sobre a atual sociedade em que estamos inseridos, pautadas nos descasos, nas quebras das estruturas familiares e no comportamento ausente das autoridades. Como tudo tem sempre dois pontos de vista, cabe a nós (humanos) usarmos do nosso raciocínio lógico para distinguir qual é o melhor meio a ser usado naquele momento histórico “ou não”. Salve Dionísio!

Escrito por: Vagner José Chiarini

Santo Padroeiro dos Atores



















São Genésio morreu por volta do ano 250, durante uma perseguição desencadeada pelo Imperador Deocleciano. Sua morte inspirou Henri Ghéon, teatrólogo belga a escrever a peça chamada “O Comediante e a Graça”, baseada na conversão de São Genésio e o martírio que a sucedeu. Genésio era um romano com vocação teatral e deveria participar de um espetáculo onde seria feita uma paródia irreverente do batismo cristão, o que levou-o a insinuar-se no meio dos cristãos para estudar o seu comportamento e viver o papel com mais autenticidade. No fundo, queria fazer o seu “laboratório”, para brilhar em cena, mas acabou vítima do zelo artístico. O convívio com os cristãos impressionou-o de tal maneira que, em meio ao espetáculo, sentindo-se tocado, improvisou e proclamou-se um cristão de verdade, negando-se a interpretar comicamente o ritual do batismo para divertir a platéia imperial. Deocleciano, em cuja homenagem se realizava a encenação, enfureceu-se, ordenando que Genésio fosse batizado ali mesmo, mas com o próprio sangue, após ser morto em pleno espetáculo. Daí o sub-título dado por Ghéon à sua peça: “O Comediante Possuído pelo seu Papel”. E daí a escolha do mártir-ator Genésio para padroeiro da classe teatral. Dia celebrado: 25 de Agosto.

Cultura de Cabaré

     Os cabarés não eram apenas centros de comércio sexual e de drogas legais ou ilegais. Foram, desde o século XIX , também centros catalizadores e irradiadores de cultura avant-garde.
     Reuniam discussões vanguardistas nas artes, na filosofia e na política. Depois do advento dos meios de comunicação de massa, as vanguardas passaram a se organizar em “cenas” que se rotulam de “underground”, “alternativas” ou de “contra-cultura”.
    Ao pronunciarmos a palavra “cabaré”, as imagens mais comuns são as cenas imortalizadaspor Tolouse Lautrec em suas pinturas . E Marlene Dietrich em “ Anjo Azul” com seu realismo fantástico e atmosfera nebulosa e barroca.
     Lembramos também da boemia dos artistas e pensadores modernistas no Quartier Latin e outros bairros então pobres de Paris.
    Também a obra poética e musical de Bertold Brecht e Kurt Weil, são referências bastante conhecidas do período que a historiografia classifica como a “cabaret culture” oficial : o entre guerras ( 1919- 1938 ) na Alemanha, com todo a crise social e hiperinflação da República de Weimar.
Antigos cabarés, o teatro burlesco, os “scketches” populares do “Teatro de Vaudeville” com suas maquiagens exageradas e circenses, as canções que falam de forma simples dos sentimentos das pessoas, com shows vistosos, dramáticos e populares.
     Esses são embriões do que no século XX se tornou arte POP. Também no começo do século XX, quando o Cinema nasce, sua estética vai beber destas fontes e de outras comuns ao Expressionismo.
Passam-se os anos e a a Filosofia dos anos 50 e 60 é existencialista, e um movimento chamado Beat ou Beatnick passa a se reunir em um outro tipo de “cabaret” : os “clubs”, sombrios e esfumaçados, onde existencialistas-psicanalíticos-marxistas –leitores de Baudelaire e de poesia Beat se vestiam predominantemente de escuro ouviam Jazz “degenerado”e se interessam por experimentos artísticos modernistas.
     No fundo, poucas diferenças entre estes e o cabaré de “Lola-Lola”. ( personagem de Anjo Azul )
Nos anos 1960-1970, artistas formados na cultura Beat começam a se aproximar do Rock’n’roll, amadurecendo o gênero.
    O musical “Cabaret” (1972 ) resgata e glamouriza o tema, mas a corista vamp Interpretada por Liza Minelli agora usa coturnos combinando com o corpete, cinta-liga e chapéu coco.
Siouxie Sioux é uma Liza Minelli punk. De fato as cenas glam, punk e wave e pos-punk bebem sequiosamente de toda essa tradição “vaudevillesca”, e sintetiza seus significados em estéticas para o fim-de-século e milênio. Os anos 1980, com a iminente ameaça de apocalipse nuclear e a falência do sonhos americanos e de paz e amor, se parecem muito com vários outros períodos anteriores desde a revolução industrial.
     O cabaré sempre foi o lugar daqueles que não tem o “poder” ou o “phallus” no apolíneo mundo da sociedade industrial e positivista. O lugar dos “belos perdedores” e dos “comedores de lotus”. O lugar de coisas “improdutivas” e “pouco práticas” não mensuráveis nos gráficos dos noticiários.
Coisas que, paradoxalmente, fazem a sociedade aceitar novos padrões de comportamento, antes considerados malditos. Mas até serem aceitos, o cabaré é casa e refúgio, e um local para recuperamos a sanidade ameaçada em um mundo que não é feito para seres humanos. Por alguns momentos de congraçamento nos esquecemos do mundo lá fora, e cantamos:
“ This is a Happy House,we’re happy IN here.”

Sobre Morangos, bananas e pirulitos

Salve 2012. Salve os amigos que estiveram conosco em nosso último processo de trabalho. Salve os Deuses do Teatro. Salve Piracicaba e seus atores, que contam e recontam suas histórias diariamente. Salve a Cia D´Vergente de Teatro...Salve, salve.
É com essa energia rodeada de amigos que voltamos à tona, para respirar, pensar e repensar. Nesse contexto brindamos ao reencontro, de quem se foi por busca de outras oportunidades e de quem ficou apostando em mais um trabalho de pesquisa. É assim que a Cia D´Vergente se encontra nos seus âmagos...buscando algo que  figure, transfigure e transforme o ser  ator e expectador  em instrumento  de mudança, seja ela social ou ilusional, pois as duas são extremamente vital para   vida do ser humano. Viver e sonhar! Eis a questão.
“À Sombra de Medeia” nos trouxe muito crescimento de buscas, curiosidades, encontros (obrigado João Scarpa, por apostar e acreditar na gente-e em mim, como autor--?-?-). e a velha questão que não se cala nunca...”porque fazemos teatro?”
Talvez demoremos a responder tal questão, porque oras oportunidades surgem, oras não e a Cia D’VERGENTE é guerreira, com seus dias, semanas e finais de semanas, sempre estamos lá! Conversando, brincando, buscando e inventando novas possibilidades. É o novo criar da “persona” (palavra amada pelo ator Felipe Trevilin).
Agora vamos rir...vamos brincar respeitosamente e novamente com  as mulheres. Incrível! Inconscientemente, percebemos que a mulher é sempre o nosso “objeto” de estudo...com todo respeito e desrespeito artístico também. E porque não?
 Mas no âmbito de todo trabalho, e muito trabalho, voltamos com nossas oficinas de buscas pelo desconhecido, pelos molejos e remelexos que nem sempre temos...pela sensualidade que as bananas, morangos e os pirulitos nos excitam. Mais uma vez, brincamos com o desconhecido...sensualmente, desconhecido! Mas e daí??? Nesse abismo todos nós criamos asas.

Vagner Chiarini
Professor/Ator