É uma aventura louca.
Tudo ao redor é mentira. Os objetivos nos quais se toca, a cadeira em que sentamos, a roupa-mentira. O olhar do colega, a palavra que sai da boca. Muitas vezes o próprio ato de estar ali, quando o desejo real seria descansar, beber, namorar ou ver a filha. Mentira.Naufrago no mar da mentira, o ator procura a verdade, com a avidez do afogado.
Se ela não for encontrada, o preço é caro. O constrangimento, a vontade de fugir de cena, incerteza, insegurança. A sensação de estar realizando um ato tão absurdo ao qual apenas a verdade pode conceder sentido.
Mas como achar verdade naquilo que não é? Enlouquecendo, com certeza. Mas o ator não deve ser um louco. E sim mais um operário da catedral da arte.
A saída é uma só. Tão obvia quanto sutil. É preciso saber que tudo ao redor é falso e, uma emocionante aventura intelectual, formular para si mesmo uma pergunta: é falso, eu sei. Mas se fosse verdadeiro, como eu agiria???
Representar um papel é responder a esta pergunta. Que não tem nada de louca, embora convide francamente ao delírio.
Autor: Domingos Oliveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário